O conturbado cenário global dos últimos anos afetou profundamente empresas, consumidores e países, provocando um redesenho da globalização e mudanças na estratégia corporativa.
Os gestores de empresas de todo o mundo estão sendo desafiados a ajustar suas operações ao novo contexto, alterando sua estrutura de abastecimento global, estabelecendo novos critérios para escolha de países e parceiros comerciais.
Esses ajustes de rumo estão sendo feitos em um contexto marcado por forte instabilidade no setor financeiro e sob a emergência de tecnologias revolucionárias no campo da Inteligência Artificial.
Para dimensionar e compreender essas transformações, estamos conduzindo um estudo em duas fases que já conta com a participação de mais de 400 empresas de mais de 60 países. Nossa pesquisa mostra um mundo em transformação, com empresas seguindo em direções diferentes de acordo com o país de origem da empresa, seu porte, setor e outras variáveis.
O estudo completo, que será divulgado a partir de julho, vai trazer detalhes dessas mudanças, uma oportunidade para observar as decisões que estão sendo tomadas em diferentes contextos. A primeira etapa da pesquisa mapeia os fatores externos que afetaram as empresas e seu impacto na produção e custos. A segunda etapa irá explorar as decisões estratégicas tomadas pela alta gestão das empresas.
Veja abaixo os resultados preliminares da primeira etapa e acesse o questionário da segunda etapa clicando no link – pesquisa restrita a diretores e CEOs de empresas industriais.
Dados preliminares – primeira fase da pesquisa
Respondentes: 415 empresas, 65 países – amostragem não probabilística
Turbulências Globais: Sansões econômicas, Covid e guerra da Ucrânia. As operações da sua empresa foram afetadas por esses fatores externos?
Como esperado, a esmagadora maioria dos respondentes (92%) reportou impactos de diversas naturezas. Da interrupção da produção ao aumento de preços, da mudança na linha de produtos à internalização da produção de alguns insumos, as empresas reagiram de formas distintas a depender de seu setor, região de atuação e grau de internacionalização.
No relatório completo de julho, apresentaremos os detalhes dessas mudanças para melhor compreensão dos caminhos adotados pelas organizações.
Impacto de fatores externos: como você classificaria o impacto de cada fator externo sobre a sua empresa?
Entre os fatores externos que mais afetaram as empresas, as restrições operacionais provocadas pela COVID nos países fornecedores foram o fator indicado como de médio ou grande impacto para 84%. A COVID afetou também provocou impacto médio ou grande nas importações de 77% das empresas, além da interrupção nas operações ter sido relatada como de médio ou grande impacto por 74% das empresas. Também indicaram impacto médio para alto 65% das empresas respondentes que foram afetadas por restrições associadas a fatores Geopolíticos, particularmente as sanções econômicas determinadas por diferentes países nos últimos anos.
E por fim, 42% dos respondentes relataram nível médio e alto de impacto dos conflitos militares dos últimos anos, especialmente da Guerra na Ucrânia, sobre seus negócios. Enquanto os fatores relacionados com a COVID afetaram de maneira razoavelmente homogênea os diferentes perfis de empresas, os fatores geopolíticos e militares são significativamente mais importantes para alguns grupos de empresas. Esses detalhamentos serão apresentados no relatório final em julho junto com os dados de outros fatores externos também avaliados.
Mudanças nas operações: quais foram as ações implementadas por sua empresa para lidar com esses fatores externos?
As empresas buscaram alternativas para manter as suas operações ou abreviar sua interrupção. A depender do país, setor, porte e outros fatores que serão apresentados em detalhes no relatório final, ações específicas ou uma combinação de ações foram usadas para mitigar os efeitos dos fatores externos.
Os dados quantificam um cenário de grande turbulência para organizações nos últimos anos. 80% das empresas relataram que a busca de novos fornecedores no exterior foi uma ação classificada como de média ou alta importância para a empresa enfrentar as adversidades do ambiente de negócios. 77% relataram que a busca de fornecedores no seu país foi também uma ação importante. Da mesma forma, 69% tiveram que recorrer a interrupção parcial de suas linhas de produção, enquanto 64% optaram por internalizar a produção de itens anteriormente comprados de fornecedores. Mesmo com a busca dessas alternativas, 50% indicaram que ao menos temporariamente foram obrigados a suspender totalmente suas operações.
No relatório final, apresentaremos outras ações implementadas pelas empresas e seu detalhamento por país, região, porte e setor.
Global Supply Chain and Operations: suas operações foram paralisadas devido a problemas no fornecimento internacional?
Os problemas com o fornecimento internacional de insumos causaram grande prejuízo para as empresas. Embora elas tenham buscado alternativas como as apresentadas acima, 52% das empresas participantes deste estudo indicaram que tiveram paralização das suas operações por ao menos um curto período de tempo, sendo que outros 22% das empresas ficaram paralisadas por um longo período.
Com o prejuízo causado por essas interrupções, é esperado que haja reflexões cuidadosas nos próximos tempos sobre a estrutura geral de fornecimento e a busca de soluções mais robustas para garantir a continuidade de operações.
Global Supply Chain and costs: qual o impacto dos problemas no fornecimento internacional sobre seus custos de produção?
Era esperado que mudanças repentinas na estrutura de fornecimento internacional elevassem os custos das empresas, fato apontado por 82% dos respondentes. 60% dos participantes deste estudo indicaram que seus custos foram elevados significativamente, além de outros 22% dos respondentes que indicaram que tiveram um aumento moderado de custos. Vale destacar que 7% das empresas reportaram redução de seus custos no processo de busca de novos fornecedores.
Global Supply Chain and costs: qual o impacto dos problemas no fornecimento internacional sobre seu padrão de qualidade de produção?
Um percentual ainda grande (60%) de empresas reportou problemas com o padrão de qualidade de produção decorrente das turbulências internacionais dos últimos anos. 22% das empresas indicaram que muitas de suas linhas de produtos foram afetadas negativamente por problemas de fornecimento global, além de outros 38% indicando que ao menos uma parte de suas linhas foram prejudicadas. No outro extremo, 11% das empresas aproveitaram a oportunidade de realizar ajustes e lograram incrementar seus padrões produtivos.
Natureza das mudanças: as mudanças implementadas na sua empresa diante das turbulências globais dos últimos anos se tornaram permanentes?
A guerra na Ucrânia e as relações internacionais entre as principais economias do mundo seguem fragilizadas, mesmo com a superação da pandemia. Nesse quadro, a maioria das empresas optou por tornar permanentes total ou parcialmente as mudanças implementadas nos últimos anos. Isso indica que os ajustes não se configuram como uma ação contingencial, mas uma mudança estrutural com efeitos duradouros para a empresa e, no agregado, para as relações econômicas internacionais.
Países perdedores: informe os países dos quais sua empresa deixou de importar?
Com a busca de fornecedores em outros países e internalização de processos, alguns países deixaram de estar na lista de fontes de insumos produtivos para as empresas participantes deste estudo. Como maior exportador global, a China foi também o país que mais perdeu exportações diante das turbulências globais dos últimos anos, com 37% das empresas informando que reduziram suas importações ou deixaram de importar desse país.
Em segundo lugar em nosso estudo, a Rússia perdeu espaço nas compras internacionais de 9% das empresas pesquisadas, algo significativo para um país que ocupa apenas o 11º lugar entre os maiores exportadores do mundo na estatística da OMC. No relatório final da pesquisa, apresentaremos a lista completa de países que perderam exportações e detalhes do perfil das empresas (porte, região, setor etc.) que deixaram de comprar desses países.
Países ganhadores: quais países passaram a integrar sua lista de fornecedores?
Ao deixar de importar desses países, muitas empresas buscaram outros países para substituir seu fornecimento. Mais uma vez, a China foi apontada no topo da lista, com 15% dos participantes deste estudo indicando esse país como um novo fornecedor. Estados Unidos e Índia seguem com 7 e 5% respectivamente. No relatório final, mais detalhes sobre países e perfil das empresas que os incluíram em suas listas de fornecedores.